terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Almas e intentos



Em meados do final da estação do frio, em meio a torrentes geladas e dias acinzentados, veio a febre que aqueceu a pele e a alma fria de outrora. Nasce quando dois olhares se cruzam no relampejar da batida das pálpebras, na lentidão e rapidez de um redemoinho que distante aponta. Em portas distintas, vidas desiguais num mesmo espaço, num mesmo instante, num segundo da pupila na pupila. Num desejo de eternidade. Sem saber que é, mas já sendo, é iniciado o fervilhão intrínseco do que estaria próximo de tomar um ser em sua totalidade. Mãos, olhos, pele... alma, sensações, inópia do outro ser... cada desejo sugerido pelo seu olhar, tomava meu ser num processo de erupção, e a “alma se agita aflita....e como se fosse praga.... bombeia meu cerebelo...”
Todos os dias que estariam no porvir seriam de muitos encantos e alguns, mas relevantes, mínimos desencantos. Cada som seria poeticamente proferido, cada toque profanadamente celeste... 

Era um púbere, mas ancestral cruzar de olhos, de almas, de intentos... nas ladeiras daquele mundo que me trouxe você eu me lancei. Como se lança ao rio que corre agitado. Num mix de medos e certezas. Eram dias de um cotidiano de diálogos agradáveis, filosofias desarranjadas, resultando em beijos intermináveis, almas se consumindo. Daí veio a necessidade... O vício da tua presença, do teu gosto, do teu cheiro, do teu som... Cirandas compassadas, o assinalar rítmico de olhares e murmúrios. Ecos, numa mistura de timbres e cores, instalando vibrações pelos poros, beijos carimbados, gotas transparentes de desejo, tocando nas nuvens, no meu céu... sonhos alaranjados em notas musicais, mesclando-se aos desejos a flor da pele... os cheiros tão teus, num só meu, corpo meu teu, alma minha tua... e eu cristalizando no céu dois pares de olhares a contar estrelas... A respiração pára... pára!

domingo, 18 de novembro de 2012

Desassossego





Poderia haver trilha sonora e tudo...
Como algo que surgiu sem ter nem pra quê, sem pretensão ou decisão, que talvez nem exista na sua forma mais concreta, pode impulsionar tal força dentro e fora de mim? E depois de entrar nos teus olhos (especialmente neles), na tua boca, no teu corpo, ser tomada pela imensidão do querer, ainda conseguir crescer e se firmar? É esse teu gosto que me faz falta. Sempre me faz falta! Uns açúcares e sais e qualquer coisa de alcóolica que me embriaga e vem da tua boca na minha. Tomando-me numa psicose frenética... E também me faz falta o teu cheiro e teu suor invadindo minha pele. Mas é no teu olhar, dentro, pupila na pupila, que eu fujo, que eu moro e que de repente você foge pra dentro de mim... Não vá agora! Demore-se em mim o tempo que houver, todo tempo que houver. Como se ele, o tempo, fosse outro que não o tempo das horas corridas na vida de sempre. Que me rouba dos seus braços. Como se ele fosse só nosso e o resto, nada. Mas apenas ali. Eu e você. E involuntariamente eu me pego tua. Desejando ser posse. Assustada pela necessidade da tua presença. Aflita de um querer indisfarçável. E como eu tento disfarçar... Ávida. Há uma infinidade de vontades e quereres rondando o meu sossego. Por que tudo é longe e sem tempo? Por que tudo parece tão inalcançável e distante? Queria o querer inundando o calendário, as agendas apertadas, as horas do dia. Respingando nossas bocas misturadas, nossos olhares e mãos entrelaçados. É, sim. Vontade da presença. Querer esse tudo todos os dias, todo o dia. Mesmo repleta de medos, quero querer esse querer com tal força que sem defesa eu fico. Refém do meu desassossego.


terça-feira, 19 de junho de 2012

Liberté...Grito!! (Carta aos queridos do Distrito Sanitário II)



A vida da gente é necessariamente feita de escolhas. E todas elas vêm carregadas de consequências. Sem nenhuma falsa modéstia ou pouca pretensão, assim como Lya Luft, Clarice Lispector, Lisbela do Prisioneiro, Maria da Penha, Madre Tereza, D. Maria, D. Joseja, S. José e tantas outras e outros, como eles eu escolho a OUSADIA. E não escolho pra viver uma aventura romântica, um desejo revolucionário de um rebelde sem causa. Escolho, e aí digo escolhemos, porque é uma escolha coletiva. Escolho porque tem causa e efeito. É projeto societário e mais do que isso, essa ousadia pra mim e tantos outros companheiros de luta, que estão aqui, do meu lado, olhando pra mim, ou bem longe, é projeto de vida. Tudo o que vem acontecendo comigo e com tantos outros nada mais é do que o resultado de práticas de pessoas que arrotam filosofia e praticam tirania. Não tenho nenhum medo de afirmar isso. Absolutamente. Simplesmente porque é verdade. E não é nela que acreditamos? E não é por ela que estamos aqui? Muitos ancestrais nossos morreram pra que nossa voz pudesse ser ouvida. Muitos pagaram com seu sangue pra nos deixar uma herança de fala não cerceada. Muitos viram suas cabeças rolarem para que a tão sonhada democracia rumasse dos papéis para as ações. Nunca, em nenhuma circunstância eu remaria contra isso. Jamais compactuaria com posturas tão cruéis e egoístas. E a consequência disso é sabida. É pessoal, demitida! Todos vocês são testemunhas da minha paixão pelo SUS, da minha responsabilização com esse compromisso e do meu amor por esse Distrito Sanitário. Não é de hoje que sou parte intrínseca da construção desse projeto que se pretende ser socialista. Daí uns e outros, isso mesmo, uma meia dúzia, surgem do além com discursos midiáticos e práticas ditatoriais. Não sou, não posso e não quero fazer parte disso. E se pra isso eu precise perder meu conforto, minha estrutura, eu quero, eu escolho! Porque prefiro a paz do meu espírito, a consciência limpa e leve, a dor nos braços pela labuta do dia e o sorriso sincero de tantos nos meus olhos. Com a devida licença poética, traduzo minhas palavras nas do poeta e companheiro dessa mesma luta, Lau Siqueira:


“Somos filhos do mangue
refletindo a lua e o
delírio minguado dos becos
espanto e espasmo dos pássaros
que perfuraram o véu da manhã
somos a alegria de quem luta
e o braço forte de quem sonha
colheita de memórias negras
e índias que soçobram das veias
e saciam a sede 
mulheres e homens permeados
pelos ecos da esperança 
...de quem não espera
(peito aberto diante do abismo)
somos o grito das ruas onde
amassamos a vida
transformando labuta em pão
somos a fluidez dos rios
e o aprendizado das nuvens
no traçado rijo dos dias
companheiros de dor e alegria
caminhantes de luz pelas trilhas
desta lúcida utopia
(vencer é nossa mania)”



Aqui ou ali. Onde eu estiver. Onde vocês estiverem. A construção é a mesma. Força, luz! Vamos precisar de todo mundo junto. Cada mão aqui é fundamental na consolidação disso tudo aqui que a gente sua tanto, acredita tanto e luta tanto. Sabe... eu escolho os meus amigos pela pupila, pelos olhos. Aqui fiz muitos. De verdade. Aquela mesma verdade que falei a pouco. Nunca esquecerei dos desafios vencidos, dos dias vividos, das dores compartilhadas, do ombro oferecido. Das risadas trocadas, dos copos virados, dos lanches divididos. Me reconheço em cada olhar aqui dessa família. Em cada um, um pedacinho de mim. E em mim um pedacinho de cada um. O momento além do desabafo é também de agradecer por tudo. Agradecer em especial a Direção e as pessoas que foram minhas parceiras de território. E a todos pela paciência com as piadas muitas vezes impertinentes, pelo excesso de sinceridade, pela dureza nas palavras, pela compreensão das limitações, pela aposta no meu potencial. Isso é pra além do que os “ratos” podem compreender. É para os fortes! Só eles entenderão! E a luta é urgente! Não temos tempo de temer a morte!
Espero do fundo da minha alma poder cruzar com cada um que está aqui na construção de uma cidade verdadeiramente democrática. Onde possamos nos olhar de cabeça erguida. Sem medos, sem amarras, sem prisões. Totalmente repletos do desejo e da possibilidade de construção justa. Na defesa da liberdade como bandeira primeira de todas as nossas lutas. Pra encerrar esse “até logo” vou ler pra vocês uma frase de uma das mulheres mais admiráveis que eu já vi. Ela se chamava Simone de Beauvoir: “Que nada nos defina. Que nada nos sujeite. Que a liberdade seja a nossa única substância”...
Até logo!

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Viver o tempo


Agora era chegado o momento em que ela pensou que um dia pudesse não existir. Já não era mais só a saudade leve, doce, cheia de tons de lilás. O desejo do cheiro cheiroso, do gosto gostoso. Bom, tão bom!  A vontade de escutar ele falar de música horas e ver como aquilo era parte intrínseca a ele. Lindo! Ela dizia sempre... lindo! Agora ela respirava profundamente e olhava em seus olhos e ele perguntava – Por que esse olhar? Agora era outro olhar... era o da certeza da distância que se aproximava. Agora era a falta que apertava o peito. O lilás dando lugar à carência de cor. Era o silêncio da ausência que lhe rasgava a garganta. E era mais, era a impossibilidade de tê-lo ali, aqui, pra si. Ela é escorpiana, intensa, deseja possuir fortemente, sem reservas. Ela dizia a ele que crescer dói. E dói mesmo! Tudo era muito cruel com ela. Ela achava que o ideal mesmo era pular daquele barco. Mas ela não queria. Porque era tanto querer, tanto...! A própria âncora era ela. Presa! Medo? Sim! Muitos deles! Principalmente da quimera que um dia se mostraria. Mas ela acha que sabe nadar, e que o medo é bem pequeno perto do querer. Nesse dia que ela fitou seu próprio coração e viu que ele havia ficado bem pequenininho, ela sentiu raiva por ele tê-la achado. Ela estava quietinha em sua redoma bem semelhante a da rosa do B-612. E ele, aquele príncipe... tão carinhoso, de olhar tão profundo, tomando-a pra si. Ela achou que isso não era certo. Mas era verdadeiro, ingênuo e grande. Era justo se privar de tanto querer por medo? Ela não sabe o que fazer, mas sabe o que quer. Quer ter seu Cais perto, dentro, sempre. Mesmo no seu silêncio melancólico sua garganta grita saudade de tudo que poderia ter sido noutro tempo e que achou de se apresentar nesse tempo. Viver a cor, viver o som, viver o querer, viver o tempo. Era isso que ela mais desejava.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Olhos de querer...




Era nos olhos dele que eu fazia morada naqueles instantes.
Todos os dias aqueles olhos eram meus.
Eram um mar de tulipas que ruborizavam o meu ser mais particular.
Sua contemplação ao cruzar os meus olhos, me instava como um canto de sereia.
Era penetrante, agudo, profundo. Não tinha identidade. Era apenas o meu porto, a minha espera.
Não tinha sintonia de palavras. Era uma enxurrada de dizeres.
Como um Cais e eu perdida. Precisava, queria!
Não havia bater de pálpebras. Não havia desvio no olhar. Éramos nada ali.
Só eram eles, os olhos. Independentes. Como se pudessem ter vida própria, comunicação própria.
Perscrutando o meu ser inteiro. Por dentro e por fora.
Saltavam, ondas... brilhavam, faróis... dilaceravam o corpo e a alma.
Eram mãos trêmulas, frias. Borboletas saltando de dentro pra dentro.
Olhares facilmente decifráveis.
Quem ali estivesse podia perceber a ligação de alma entre eles.
Olhos ilegais...
Sensação proibida pelos humanos e permitida pelos deuses e semideuses que rodeavam aquelas almas sedentas uma da outra.
Reféns de uma vontade de querer.
Pareciam tomados de uma saudade. Saudade do que não se viveu nessa vida, talvez noutra – ele dizia.
Todo querer habitava. Sem saber por que, nem pra que. Somente querer! Verbo transitivo direto. Sentido próprio. Não precisa de complemento pra fazer sentido. Simplesmente querer!
De tanto querer, aqueles olhos me encontraram. Depois dos tempos juvenis, quase infantis, ele me buscou e me tomou pra si.
E o que já era mágico simplesmente por existir, tornou-se maior. Porque agora era o cheiro, o gosto, o som. O querer mais, por querer sempre.
Abriu minhas janelas emperradas, arejando meu âmago.
Olhos de anjo, que se colocavam sobre mim e apagavam a angustia do mundo real.
Hoje queria um sussurro de encanto pra congelar o tempo.
Porque era dos minutos que me alimentava. Era o que me era permitido.
Mas aquilo, somente ali, me bastava!
Porque só de encontra-lo fitando meu reflexo como nos dias de outrora, a alma se enchia daquela mesma sensação de tempos atrás, de vidas vividas.
E bastava!
Ele me pergunta por que olho tanto pra ele...
– É pra não perder aqueles olhos que um dia foram meus e que me servia de morada.
Emoldurarei teus olhos, em paredes caiadas das memórias de um tempo onde somente eles, os olhos, tinham vida latente em nós.
E nos olhos esmaltados da minha mente, carregarei comigo aquela tórrida paixão convulsionada no meu peito.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Irreal...


Ela pensou que podia ser pra sempre. Porque ele era tudo que ela podia sonhar em alguém. Só tinha um defeito, não era real. Isso mesmo! Ele foi uma ilusão criada pela sua fértil imaginação. Mas parecia tão real. Ela lembra perfeitamente do toque da sua mão, do gosto da sua boca e do cheiro do seu corpo. Ela lembra do seu sorriso. O sorriso mais lindo que tinha visto e dos seus olhos. Mas ela lembra mesmo é do seu olhar, ela perdia o folego quando ele a olhava. Ela lembra também das declarações de amor, das músicas, da voz... principalmente da voz. “Bom demais pra ser verdade”, o clichê mais real que ela já ouviu falar. Às vezes ela acha que não tem direito de ser feliz. Por que ele não podia ficar perto dela, nem ser dela, nem ser com ela? Ela não quer muito. Apesar das pessoas dizerem que ela é exigente, ela só quer ser feliz. E ela acha que era ele quem iria fazê-la feliz. E mais, ela acha que ela podia fazê-lo feliz... Ela queria uma casa com janelas e cortinas brancas, um mensageiro do vento de bambu com barulho de água caindo, um jardim bem florido, um filtro dos sonhos pra filtrar os mais lindos pra eles dois, um cachorro branco, um gato preto e um peixe bem colorido. Ela queria uma rede na varanda e queria filhos lindos correndo ali. Mas ela queria ele! Ela queria ele mais do que tudo isso. Porque nada tinha sentido sem ele, nada tinha cor nem cheiro sem ele. Ela queria ele pra ver filme até tarde agarradinha, pra brincar com as crianças no jardim, pra colocar elas pra dormir junto com ele, pra cozinhar juntos no domingo, pra passear de mãos dadas na praia, pra dormir de conchinha, pra chorar no seu peito, pra ter o seu beijo todos os dias antes de dormir e ao acordar, pra ver ele ensinando a tarefa das criança com toda paciência do mundo, até pra jogar vídeo game junto com ele. Será que ela queria muito? Ela acha tudo tão simples. Mas de fato, não é tão simples. Porque ele se foi como fumaça. E agora ele simplesmente não existe, não estava ali, nunca esteve ali. Ela pensou que sim, que ele podia ser dela, mas não era real. Ele mora só dentro dela. Isso sim era verdade, mas não era suficiente. E ela ao descobrir que não morava dentro dele, não tem vontade mais de ser feliz. Ela fingiu-se de forte por um instante e disse que seria feliz sem ele. Que tinha planos. Que planos? Seus planos agora já não faziam mais sentido. Porque nada fazia mais sentido... e hoje ela não tem planos, desejos, ela só tem lágrimas e um aperto no peito que não vai embora. Ela precisa de ar, mas, mais do que isso, ela precisa dele.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Seu corpo... meu Cais.




Seu corpo... meu Cais.

Porque o entrelace dos corpos nus, em brasa, misturava-se tanto que não se entendia que corpo era um.
Mãos trêmulas serpenteavam na pele em febre. Os corações em batidas descompassadas. A respiração prenunciava uma melodia em compassos antagonicamente agressivos e ternos.
Era uma mistura de tons e sons. De gostos e aromas. De corpos intumescidos.
Eram paredes molhadas invadidas pelo desejo cru.
Meu. Posse. Força...
Seu delírio, minha entrega. Meu desejo, seu prazer.
A sua pupila não desviava a mira da minha pupila. O resto do corpo se comunicava por si numa cadência de sintonia perfeita. As palavras já não cabiam. A comunicação era da carne e da alma. Era de sabores, odores e sensações.
As temperaturas eram feitas de inferno. E as expectativas de céu. Os desejos sugavam, mordiam, possuíam.
Meu. Só meu...
Era o cais do meu corpo primitivo. E eu seu vulcão, em larvas, pela pele, pela corrente sanguínea.
Mãos indecentes, bocas famintas. Insaciável boca! Língua febril que desafiava meus pudores.
E nenhuma testemunha a não ser aquela lua pálida e muda.
Ali a alma era dilacerada. O corpo era posse, era êxtase. Numa embriaguez inexplicável onde os olhos não se afugentavam. Os corpos e as almas continuavam a ser um só.
Naquele instante que tanto desejou quebrar os relógios e encurtar os calendários. Eram os mares revoltos da vida que estavam por vir que faziam o coração esvair em lágrimas.
E eu, era só uma marinheira sem rumo e sem prumo, involuntariamente seguindo com você dentro de mim.
Os relógios continuavam os mesmos, os calendários a correr na insanidade da vida. E você, sonho que passou, apenas o gosto que ficou no pelo, na pele e no ar que eu respiro.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Eu também fiz amor com você


Nunca pensei que esse momento pudesse chegar... o adeus não estava nos meus planos. Nem os devaneios, nem as agressões verbais, nem os desgastes desnecessários, nem a vida "antiga" regressada, nem a boemia de outrora. Pensei, sonhei, desejei, planejei e ousei. Ousei fortemente como poucos fariam em meu lugar. Como sair do castelo tão sonhado para morar na tapera? Mas era a tapera que me acolhia, que me esquentava a alma. Era tudo tão sublime. Era tudo tão cheio de promessas, de juras de amor eterno. Sabe, eu tenho um amigo que diz que só precisa de quatro coisas na vida pra ser feliz: água, comida, ar e paz. Concordo com ele. Meu coração não está em paz. Não há culpados, condenados. Você talvez tenha sido o meu "marco". Marcou o início de uma nova história pra mim. Cheia de vontade de vida e felicidade. Eu ainda as quero e as busco incessantemente. Hoje eu me sinto em desarmonia com meu corpo, com meus pensamentos, com meu coração. Hoje eu me sinto cansada como se tivesse dado sete voltas ao mundo. E parece que dei mesmo. Você é uma nova pessoa e disso eu me orgulho. Incrivelmente especial. Talvez a vida, o mundo, os desejos tenham nos afastado. Sem dúvida os quilômetros não foram os responsáveis. Nos perdemos em alguma estrada do coração. A reflexão dos erros e acertos nos ajuda a amadurecer, mas talvez não tenha o poder de nos trazer de volta ao lugar tão sonhado.  A dor é forte mesmo pra quem se vai. Admitir fracasso na luta pela felicidade e ter coragem de recomeçar, mais uma vez, é sinal de força. Ah, concordo com o poeta que diz que amor é pra sempre. Não acaba, se modifica, se transforma. As lembranças e memórias não deixam nada que é verdadeiro morrer. amei muito, fortemente e amo! Pena que amor é pouco pra construir felicidade. Isso sim eu descobri e tenho certeza. Harmonia, cumplicidade, compreensão, desejo de mudança, abnegação, planos comuns, projetos de vida... e tantas outras necessidades que completam e constroem a tão sonhada felicidade. Eu me doei completamente. Eu me joguei no abismo. Sem medo e sem reservas. Não há arrependimentos, remorso ou sensação de "tempo perdido". É apenas o vazio do "the and". A respiração forte, pesada. O corpo trêmulo e os olhos cheios, cansados. Por que insistir tanto tempo e esforço na busca do amor? Porque é ele que nos move, é ele que nos encoraja à vida plena. A vida é sim cheia de imperfeições e é por isso que precisamos desse sentimento tão forte, tão propulsor e verdadeiro pra nos impulsionar. Como uma catapulta que nos leva alto e longe. Naqueles minutos de êxtase éramos um. Eu também fiz amos com você. Os outros minutos não cuidados, entregues à sorte é que nos tornaram dois. Não sei ser pela metade, não quero ser sem ser inteira. Duas vidas, duas pessoas, dois planos. É clichê dizer: "um dia poderemos nos cruzar"... não desejo que ninguém viva a mercê de outro, nem de um acontecimento à espera. Mas, se essa afirmativa tiver alguma verdade, que assim seja então.

sexta-feira, 23 de março de 2012

À deriva...

Às vezes penso que vivo noutro mundo. Não quero ser a rosa no cárcere do b-612. Mas também não quero ser a ave que vive sem rumo e sem prumo. Quero um mundo com chão de terra, árvores, asfalto, luz, noite. Olhos de águia. Foco, meta! Nesse mundo de meu deus é tudo muito cheio de outono. Seco, frio. As folhas sonâmbulas caem e o vento já não acaricia mais meus cabelos. Meu pescoço nu. As lanternas dos olhos estão turvas. Pra que enxergar? Enxergar o que? Às vezes é melhor seguir à deriva, tributo da sorte. Vive-se melhor! Esses desfrutam o orvalho desse outono cinza. Eu estou ocupada! Não tenho tempo pra desfrutar! Cansada! O relógio que me rege gira rápido demais... mas não tão rápido quanto a minha vontade de viver, de saber, de contar. Menor o tempo do que minha vontade de ser! Sou metódica e faço planos até para fazer planos. Mãos clandestinas me frustram. Desconstroem e desabam meu castelo ainda sem alicerce. Poder! Esse eu não tenho. Eles sim! A crueldade das impossibilidades me mostram o escuro à frente. De mãos dadas comigo mesma caminho sei lá pra onde. Mas caminho! Caminho não: alço voos. Não quero ficar parada vendo o bonde da história passar. Ainda que seja no escuro da noite, na frieza do outono, sendo desapontada pelas mãos que remam “coletivamente” para caminhos individuais, obscuros. Eu sei que existe um barco pintado no horizonte desse mar borrado. E é nele que eu vou chegar!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Eu sou em todo lugar...


Eu me chamo Denise Miranda, sou Assistente Social, Educadora, Professora, Militante do SUS, Militante do Partido Socialista Brasileiro. Sou defensora intrépida da justiça social e da liberdade. Abomino a apatia e suas consequências. Sou uma escorpiana torta, repleta de intensidade e sensibilidade. Misteriosa por natureza. Eu olho nos olhos, leio poesia e choro, assisto filme até tarde, ouço o horário político no rádio bem cedinho, escrevo horas e horas e depois jogo tudo fora, brigo pelos meus princípios de forma aguerrida, defendo os meus com braços de mãe. Sou filha do carnaval e descendente de Dionísio. Tenho olhar crítico e analítico. Tenho risada de criança e expressão de seriedade. Tenho um desejo profundo de ver a alma das coisas, não simplesmente às coisas como elas “são”; a alma das pessoas, não apenas as pessoas como elas pretendem se mostrar. Desejo ser inteiramente e fortemente aguda, penetrante e profunda. Desejo enxergar além do que a visão comum é capaz, captar o extremo, o disfarce, a máscara. Sem análises personificadas e superficiais. Quero descobrir e aprender cada dia mais. Eu vivo para saber quem é o outro. E mais: quem eu sou. Cada dia me descubro diferente de antes. A busca do compreender de si é tarefa interessante e desafiadora. É uma descoberta que passa o tempo todo pela experiência do ser e estar no mundo. Eu sou e me descubro ainda mais no que faço. Faço e me descubro ainda mais no que sou. Partes que se complementam, partes que me completam. Amo o que faço e, o que sou ontem é pouco pra mim hoje. Eu quero sempre mais! Acima de tudo, sou um ser sedento, um esboço imperfeito e muitas vezes confuso de uma perfeição inacabada. Eu me experimento inacabada. Da poesia, o rascunho. Do gesto, a intensão. Sou como o rio em processo de vir a ser. O rio é a mistura de pequenos encontros, de confluências de outras águas. Horas me vejo como os outros dizem achar de mim, como se assim estivesse a ler uma manchete de jornal ou um blog de internet a meu respeito, confidenciado pelas impressões destes diversos autores que me rodeiam. Outras horas me vejo diante do espelho na tentativa de buscar nuances ainda desconhecidas. Enxergando qualidades e defeitos, olhares e sentidos. Talvez isso tudo não seja eu, na minha essência. Mas, sem dúvida é descoberta, nem que seja para confirmar o que não sou. E como é saboroso esse inevitável destino de sermos humanos necessitados de estabelecer vínculos, cruzar olhares, estender mãos, encurtar distâncias. Nem que seja entre nós e nós mesmos. E, nessa “highway” , que a gente não sabe exatamente onde vai parar, não quero e nem posso aferir a mim mesma reduções simplistas, frases apresentadas que não busquem transcendências, metáforas de almas de “botequim”, que se aprisionam na imanência tortuosa do cruel cotidiano. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.
Um dia sou multidão, no outro sou solidão. E é nesse equilíbrio, de ser uma metamorfose, que vou desvelando o que sou e o que ainda devo ser, o que quero e para onde eu vou, pela força do desejo do aprimoramento. A realidade ainda é base sólida do ser. E eu amo a vida. Sei sim o que eu quero e mais ainda, o que eu não quero. E eu quero, sempre ir além! Ir além, aliás, é o conceito que desejo carregar para o resto da vida que a mim foi concedida. A dor que sentimos com as transformações que precisamos enfrentar, sem escolha, em nossa vida, possue o sublime sentido de nos mergulhar no que há de mais profundo em nossa alma. Eu busco a intensidade das coisas. Nutrida pela busca da transformação, almejando, acima de tudo, compreender a vida em seu sentido mais amplo, livre de todas as análises vãs, retirando todas as máscaras do cotidiano. E nesse traçar quero desenhar o meu caminho. Planejar, projetar. Embora ele seja cotidianamente alterado pelas demandas do externo e do intrínseco a mim. Desejo ir onde os meus olhos não podem ver. Caminhando de maneira a realizar trocas. Onde eu e o outro tenhamos um saldo positivo no final da estrada. Quero construir, deixar marcas e mais, quero modificar, transformar e me transformar. Sabe... um dia sonhei em ser Presidente da República. Hoje sonho em modificar mentes, conceitos. Transformar princípios de forma a reafirmar na minha vida e no que acredito as minhas posturas e atitudes. Efetivar meus designos coletivos e pessoais mais secretos. Quero seguir o rumo como a chuva. Às vezes causando estragos, outras fazendo brotar vida nas lavouras mais secas. Enchendo os rios e as represas das almas sedentas. Quero correr o mundo inteiro, transformando, gerando vida. O que eu sou? Autêntica. O que eu quero? Ultrapassar. Para onde eu vou? Para todo lugar.