quinta-feira, 3 de maio de 2012

Olhos de querer...




Era nos olhos dele que eu fazia morada naqueles instantes.
Todos os dias aqueles olhos eram meus.
Eram um mar de tulipas que ruborizavam o meu ser mais particular.
Sua contemplação ao cruzar os meus olhos, me instava como um canto de sereia.
Era penetrante, agudo, profundo. Não tinha identidade. Era apenas o meu porto, a minha espera.
Não tinha sintonia de palavras. Era uma enxurrada de dizeres.
Como um Cais e eu perdida. Precisava, queria!
Não havia bater de pálpebras. Não havia desvio no olhar. Éramos nada ali.
Só eram eles, os olhos. Independentes. Como se pudessem ter vida própria, comunicação própria.
Perscrutando o meu ser inteiro. Por dentro e por fora.
Saltavam, ondas... brilhavam, faróis... dilaceravam o corpo e a alma.
Eram mãos trêmulas, frias. Borboletas saltando de dentro pra dentro.
Olhares facilmente decifráveis.
Quem ali estivesse podia perceber a ligação de alma entre eles.
Olhos ilegais...
Sensação proibida pelos humanos e permitida pelos deuses e semideuses que rodeavam aquelas almas sedentas uma da outra.
Reféns de uma vontade de querer.
Pareciam tomados de uma saudade. Saudade do que não se viveu nessa vida, talvez noutra – ele dizia.
Todo querer habitava. Sem saber por que, nem pra que. Somente querer! Verbo transitivo direto. Sentido próprio. Não precisa de complemento pra fazer sentido. Simplesmente querer!
De tanto querer, aqueles olhos me encontraram. Depois dos tempos juvenis, quase infantis, ele me buscou e me tomou pra si.
E o que já era mágico simplesmente por existir, tornou-se maior. Porque agora era o cheiro, o gosto, o som. O querer mais, por querer sempre.
Abriu minhas janelas emperradas, arejando meu âmago.
Olhos de anjo, que se colocavam sobre mim e apagavam a angustia do mundo real.
Hoje queria um sussurro de encanto pra congelar o tempo.
Porque era dos minutos que me alimentava. Era o que me era permitido.
Mas aquilo, somente ali, me bastava!
Porque só de encontra-lo fitando meu reflexo como nos dias de outrora, a alma se enchia daquela mesma sensação de tempos atrás, de vidas vividas.
E bastava!
Ele me pergunta por que olho tanto pra ele...
– É pra não perder aqueles olhos que um dia foram meus e que me servia de morada.
Emoldurarei teus olhos, em paredes caiadas das memórias de um tempo onde somente eles, os olhos, tinham vida latente em nós.
E nos olhos esmaltados da minha mente, carregarei comigo aquela tórrida paixão convulsionada no meu peito.

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