Às vezes
penso que vivo noutro mundo. Não quero ser a rosa no cárcere do b-612. Mas também
não quero ser a ave que vive sem rumo e sem prumo. Quero um mundo com chão de
terra, árvores, asfalto, luz, noite. Olhos de águia. Foco, meta! Nesse mundo de
meu deus é tudo muito cheio de outono. Seco, frio. As folhas sonâmbulas caem e
o vento já não acaricia mais meus cabelos. Meu pescoço nu. As lanternas dos
olhos estão turvas. Pra que enxergar? Enxergar o que? Às vezes é melhor seguir
à deriva, tributo da sorte. Vive-se melhor! Esses desfrutam o orvalho desse
outono cinza. Eu estou ocupada! Não tenho tempo pra desfrutar! Cansada! O
relógio que me rege gira rápido demais... mas não tão rápido quanto a minha
vontade de viver, de saber, de contar. Menor o tempo do que minha vontade de ser!
Sou metódica e faço planos até para fazer planos. Mãos clandestinas me
frustram. Desconstroem e desabam meu castelo ainda sem alicerce. Poder! Esse eu
não tenho. Eles sim! A crueldade das impossibilidades me mostram o escuro à
frente. De mãos dadas comigo mesma caminho sei lá pra onde. Mas caminho! Caminho
não: alço voos. Não quero ficar parada vendo o bonde da história passar. Ainda
que seja no escuro da noite, na frieza do outono, sendo desapontada pelas mãos
que remam “coletivamente” para caminhos individuais, obscuros. Eu sei que
existe um barco pintado no horizonte desse mar borrado. E é nele que eu vou
chegar!
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