Agora
era chegado o momento em que ela pensou que um dia pudesse não existir. Já não era
mais só a saudade leve, doce, cheia de tons de lilás. O desejo do cheiro
cheiroso, do gosto gostoso. Bom, tão bom! A vontade de escutar ele falar de música horas
e ver como aquilo era parte intrínseca a ele. Lindo! Ela dizia sempre... lindo!
Agora ela respirava profundamente e olhava em seus olhos e ele perguntava – Por
que esse olhar? Agora era outro olhar... era o da certeza da distância que se
aproximava. Agora era a falta que apertava o peito. O lilás dando lugar à carência
de cor. Era o silêncio da ausência que lhe rasgava a garganta. E era mais, era
a impossibilidade de tê-lo ali, aqui, pra si. Ela é escorpiana, intensa, deseja
possuir fortemente, sem reservas. Ela dizia a ele que crescer dói. E dói mesmo!
Tudo era muito cruel com ela. Ela achava que o ideal mesmo era pular daquele
barco. Mas ela não queria. Porque era tanto querer, tanto...! A própria âncora
era ela. Presa! Medo? Sim! Muitos deles! Principalmente da quimera que um dia se
mostraria. Mas ela acha que sabe nadar, e que o medo é bem pequeno perto do
querer. Nesse dia que ela fitou seu próprio coração e viu que ele havia ficado
bem pequenininho, ela sentiu raiva por ele tê-la achado. Ela estava quietinha
em sua redoma bem semelhante a da rosa do B-612. E ele, aquele príncipe... tão
carinhoso, de olhar tão profundo, tomando-a pra si. Ela achou que isso não era
certo. Mas era verdadeiro, ingênuo e grande. Era justo se privar de tanto
querer por medo? Ela não sabe o que fazer, mas sabe o que quer. Quer ter seu
Cais perto, dentro, sempre. Mesmo no seu silêncio melancólico sua garganta
grita saudade de tudo que poderia ter sido noutro tempo e que achou de se
apresentar nesse tempo. Viver a cor, viver o som, viver o querer, viver o
tempo. Era isso que ela mais desejava.
quarta-feira, 9 de maio de 2012
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Olhos de querer...
Era nos olhos dele que eu fazia morada
naqueles instantes.
Todos os dias aqueles olhos eram meus.
Eram um mar de tulipas que ruborizavam o meu
ser mais particular.
Sua contemplação ao cruzar os meus olhos, me
instava como um canto de sereia.
Era penetrante, agudo, profundo. Não tinha
identidade. Era apenas o meu porto, a minha espera.
Não tinha sintonia de palavras. Era uma
enxurrada de dizeres.
Como um Cais e eu perdida. Precisava,
queria!
Não havia bater de pálpebras. Não havia
desvio no olhar. Éramos nada ali.
Só eram eles, os olhos. Independentes. Como
se pudessem ter vida própria, comunicação própria.
Perscrutando o meu ser inteiro. Por dentro e
por fora.
Saltavam, ondas... brilhavam, faróis...
dilaceravam o corpo e a alma.
Eram mãos trêmulas, frias. Borboletas
saltando de dentro pra dentro.
Olhares facilmente decifráveis.
Quem ali estivesse podia perceber a ligação
de alma entre eles.
Olhos ilegais...
Sensação proibida pelos humanos e permitida
pelos deuses e semideuses que rodeavam aquelas almas sedentas uma da outra.
Reféns de uma vontade de querer.
Pareciam tomados de uma saudade. Saudade do
que não se viveu nessa vida, talvez noutra – ele dizia.
Todo querer habitava. Sem saber por que, nem
pra que. Somente querer! Verbo transitivo direto. Sentido próprio. Não precisa
de complemento pra fazer sentido. Simplesmente querer!
De tanto querer, aqueles olhos me
encontraram. Depois dos tempos juvenis, quase infantis, ele me buscou e me
tomou pra si.
E o que já era mágico simplesmente por existir,
tornou-se maior. Porque agora era o cheiro, o gosto, o som. O querer mais, por
querer sempre.
Abriu minhas janelas emperradas, arejando
meu âmago.
Olhos de anjo, que se colocavam sobre mim e
apagavam a angustia do mundo real.
Hoje queria um sussurro de encanto pra
congelar o tempo.
Porque era dos minutos que me alimentava.
Era o que me era permitido.
Mas aquilo, somente ali, me bastava!
Porque só de encontra-lo fitando meu reflexo
como nos dias de outrora, a alma se enchia daquela mesma sensação de tempos
atrás, de vidas vividas.
E bastava!
Ele me pergunta por que olho tanto pra ele...
– É pra não perder aqueles olhos que um dia
foram meus e que me servia de morada.
Emoldurarei teus olhos, em paredes caiadas
das memórias de um tempo onde somente eles, os olhos, tinham vida latente em
nós.
E nos olhos esmaltados da minha mente,
carregarei comigo aquela tórrida paixão convulsionada no meu peito.
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