terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Almas e intentos



Em meados do final da estação do frio, em meio a torrentes geladas e dias acinzentados, veio a febre que aqueceu a pele e a alma fria de outrora. Nasce quando dois olhares se cruzam no relampejar da batida das pálpebras, na lentidão e rapidez de um redemoinho que distante aponta. Em portas distintas, vidas desiguais num mesmo espaço, num mesmo instante, num segundo da pupila na pupila. Num desejo de eternidade. Sem saber que é, mas já sendo, é iniciado o fervilhão intrínseco do que estaria próximo de tomar um ser em sua totalidade. Mãos, olhos, pele... alma, sensações, inópia do outro ser... cada desejo sugerido pelo seu olhar, tomava meu ser num processo de erupção, e a “alma se agita aflita....e como se fosse praga.... bombeia meu cerebelo...”
Todos os dias que estariam no porvir seriam de muitos encantos e alguns, mas relevantes, mínimos desencantos. Cada som seria poeticamente proferido, cada toque profanadamente celeste... 

Era um púbere, mas ancestral cruzar de olhos, de almas, de intentos... nas ladeiras daquele mundo que me trouxe você eu me lancei. Como se lança ao rio que corre agitado. Num mix de medos e certezas. Eram dias de um cotidiano de diálogos agradáveis, filosofias desarranjadas, resultando em beijos intermináveis, almas se consumindo. Daí veio a necessidade... O vício da tua presença, do teu gosto, do teu cheiro, do teu som... Cirandas compassadas, o assinalar rítmico de olhares e murmúrios. Ecos, numa mistura de timbres e cores, instalando vibrações pelos poros, beijos carimbados, gotas transparentes de desejo, tocando nas nuvens, no meu céu... sonhos alaranjados em notas musicais, mesclando-se aos desejos a flor da pele... os cheiros tão teus, num só meu, corpo meu teu, alma minha tua... e eu cristalizando no céu dois pares de olhares a contar estrelas... A respiração pára... pára!